Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante




     Por Rosemari Gonçalves, psicóloga e psicopedagoga.

   A música está nos convidando a refletir sobre o fenômeno do viver em constante atualização de sentido sobre fatos e sentimentos pessoais. O compositor Raul Seixas apostou a vida inteira assim, repaginando a velha opinião "formada sobre tudo". Foi uma figura à margem do banal e do convencional. Mas isso é para todos ou apenas para os mais destemidos dos mortais?

   Na psicoterapia individual, tanto terapeuta como cliente são chamados à rever significados constantemente, com segurança e na companhia do outro, outro que está sempre ouvindo o manifestado e devolvendo perguntas fundamentais. O objetivo não é dar as respostas. É o cliente quem tenta descobrir para onde o levará a tal metamorfose, empurrado pela vontade de sair do sofrimento e de se atualizar no momento em que percebe seu protagonismo.

   Uma aceitação incondicional e positiva dos degraus que foram alcançados, dos fracassos que devam ser elaborados e dos contínuos recomeços serão as bases do atendimento na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Não é que a escuta imparcial seja seu privilégio exclusivo, porque todas as outras abordagens da Psicologia visam provocar um lugar de autoconfiança e vínculo entre cliente-psicólogo. 

    A jornada da psicoterapia na ACP começa na decisão de ambos de caminhar lado a lado, nas experiências a cada sessão e nos feedbacks do cliente em seu mundo. Ao centrar na experiência da empatia e na relação horizontal com o cliente, o terapeuta buscará a reciprocidade e compreensão dos pontos de vista trazidos à sessão, sem oferecer soluções prontas.

   A metamorfose será de ambos, porque é possível que os sentimentos do terapeuta sejam congruentes com os do cliente. Mão dupla: metamorfose de quem escuta e acolhe e quem é escutado na sua abertura. Sim, urge oferecer acolhimento porque romper casulos é dolorido. Mas o vôo entre a dúvida antiga e as novas certezas sobre si valem a pena.

   A metamorfose é possível a todos, mas acontecerá na velocidade de cada um. Será respaldada pelo meio em que se vive ou não. Será dolorosa ou não. Contudo, ela virá ao final do processo.

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