Krenak, Kaingang, Zo'és, Macuxi, Yanomami, Pataxó, Pankararu. Deixa o índio lá!
Em maio ouvi dizer que todo brasileiro é um pouco negro, um pouco índio, um pouco branco. Ouvi dizer que existe uma cosmovisão gritando que somos todos irmãos.
Fui pesquisar e aprendi que somos todos "bidés" (seres humanos), todos em fuga da solidão de sermos separados dos povos originários.
Ouvi do pós doutor Casé Angatu que Opakatu é um cumprimento para todos, todas e todes. Tudo um pronome só, para o indígena que sonha com uma vida mais simples, em sua terra, em sua cultura.
Ouvi a pedagoga Laila Krahô dizer que existe um saber europeu que sustenta uma ordem de poder colonizante que mantém o índio brasileiro em perigo constante de ser fora da lei em sua resistência. Ela afirma que todos nós somos mais que nossos diplomas e nossas propriedades e é melhor se perguntar sempre "quem sou eu" e quando descobrir não arredar pé de achar sua autenticidade.
DEIXA O ÍNDIO LÁ!
São 896.917 indivíduos indígenas no país, circulando em 716 cidades (segundo Censo IBGE 2010, enquanto não fazemos o novo postergado para este ano). São "bidés" como eu e você que também somos seres humanos. Originários sim, porque estavam aqui antes da colonização. Com sua identidade étnica preservada em nações. Até cooperaram, certa vez, com a sociedade que os massacra, lutando na Guerra do Paraguai - do nosso lado. Mas seguiram sendo massacrados pelos mineradores, seringalistas e madereiros.
Fugiram alguns para favelas paulistas. Outros viraram assalariados cortando cana nas destilarias matogrossenses. Ou se isolaram do contato na Amazônia e Roraima. Ou amargaram por holocaustos em conflitos com o latifúndio. Muitos resistiram em sua dignidade em meio a massacres pela ganância do garimpo ilegal.
Hoje a juventude desses povos quer estudar nas universidades, o que é de direito adquirido desde 2012 com a lei das cotas raciais (que inclui ainda os cidadãos negros e pardos). Bolsistas que eram 24 mil em 2017 e hoje nem chegam a um terço disso, devido âs negativas de bolsas de permanência - 6 a cada 10 estudantes indígenas que tenta se manter nas cidades onde ficam os campi das universidades federais tem sua documentação negada ou descontinuada.
Por tudo isso, irmão indígena, eu "bidé" como você e como todo ser que respira neste globo terrestre, me encontro envergonhada por não ter sabido antes da sua cosmo-consciência.
Sabia que todo homem tem direito à vida, pela nossa Constituição. Sabia que todo homem tem direito à vida em abundância, como Jesus Cristo ensinava.
Mas apenas agora sei que saber não basta. Preciso me posicionar pela demarcação das terras indígenas que são reinvindicadas por estes irmãos.
DEMARCAÇÃO JÁ
Não a demarcação pelo Marco Temporal, que será votado pelo STF em 23 de junho e lhes restringe ao território legitimado em 1988. Mas aquela que vocês, acocorados na floresta ainda hoje ou aculturados à beira das cidades reivindicam como sua, dispostos a preservá-la, ecologica ou espiritualmente, com suas tradições.
Demarcação Já. Não ao Marco Temporal. Vida plena para todo ser que partilha comigo esse mundo guarani, guajajara, potiguara, munducuru, yanomami, ticuna, waimiri, bororo, terena, kiriri, caiapó, tupinambá, xavante, carajá, tupiniquim, tabajara, iauanauá, tapuia ...e brasileiro. (Psicóloga Rosemari Gonçalves - CRP 16/6679 - Vila Velha - ES).
(Foram usados dados o Instituto Sócio Ambiental ISA, Funai e IBGE); evento em perspectiva "Biocentrismo e Decolonização: Tradição e Resistência dos Povos Originários" - Coletivo Esperançando - Brasil - 27/05/2022.
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