Seu cérebro quer amar

  Por Rosemari Gonçalves

(psicóloga e psicopedagoga - CRP 16/6679) Whatsapp 27996580809


“Pela primeira vez, na história a sobrevivência física da humanidade passou a depender de uma radical mudança psíquica da pessoa”. Quem disse isso foi Erich Fromm, sociólogo, humanista e psicanalista alemão. Isto para mim quer dizer que a solução para nossa impotência diante dos problemas não depende apenas de raciocínio, cálculo, intelectualidade, mudança política ou pacote econômico. A estratégia que devemos tomar agora para reverter essa louca e desenfreada caminhada da humanidade rumo ao caos é outra. Estamos caminhando praticamente no escuro, sofrendo dia a dia perdas consideráveis de esperança e solidariedade - e é por isso que o neurobiólogo chileno Humberto Maturana nos lembra que “nossas atuais dificuldades não consistem no fato de não dispormos de suficiente saber ou de capacidades técnicas (...) Nossas dificuldades do presente derivam da falta de sensibilidade (...) são consequência da perda que sofremos por estarmos inseridos forçosamente nos discursos de conquista, poder, controle sobre a vida e a natureza a marcarem determinantemente a nossa cultura patriarcal” Ambos defendem - eu também - que o amor é a única revolução ainda possível. “Ao sermos amor estamos unidos a todo o mundo e então emana de nós uma força reconciliadora e unificadora. Nessa força experimentamos Deus como uma qualidade de nosso próprio modo de ser humano”, diz Maturana.

Dessa vez não são místicos ou religiosos pregando a utopia do amor para salvar a humanidade. mas psicólogos, sociólogos, psicanalistas, neuropsicólogos - pessoas que passaram sua vida acadêmica estudando o funcionamento cerebral e o funcionamento das células nervosas. Neurocientistas descobriram que o nosso comportamento não é só regido pelas influências hereditárias e socioambientais. As células nervosas são carregadas de uma intencionalidade. A criança pequena, por exemplo, se desenvolve melhor quando se sente aceita e amada - mais para frente, na adolescência, essa sensação vai se transformar numa elasticidade, numa plasticidade cerebral que aumentará a inteligência emocional dessa criatura. Nós vemos então que é o amor e a ,aceitação que podem mudar esta geração e a futura. Para os três autores do livro “Amar é a única revolução”, o amor é uma força cósmica universal capaz de ampliar a expansão do potencial criativo do ser humano e assim ele pode reconhecer e fortalecer a si mesmo e pode enxergar a si mesmo em qualquer outra pessoa. O apóstolo João nos disse que Jesus pronunciou uma frase importantíssima: “Permanecer em meu amor”. Isto porque quando o amor se externaliza, quando vira uma prática no cotidiano, ele pode contagiar outras pessoas e pode sim provocar uma mudança social, uma mudança psíquica. E são gestos simples como um abraço em quem está sofrendo; perder algum tempo da sua vida prática apenas para se encontrar e escutar um amigo que está precisando desabafar; dar mais valor ao tempo que se brinca com o seu filho; se importar menos com a falta de grana ou com engarrafamentos... O amor é algo que se pode experimentar no nosso dia a dia com ações simples, sem desculpas. Vamos experimentar?
(Fotos: Ricardo Galletta e Rosemari Gonçalves) Referências: Grun, Huther e Hosang - “Amar é a Única Revolução”, Editora Vozes, 2019.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

As primeiras batalhas do sexto passo do herói interior

A felicidade importa, sim